Entrevista
Publicado 16 Novembro 2013. em RPPNs
O Programa de Incentivo às Reservas Particulares do Patrimônio Natural (RPPNs) da Mata Atlântica, parceria entre Conservação Internacional e Fundação SOS Mata Atlântica, está comemorando 10 anos em 2013! Nesse período o programa apoiou a criação de 392 novas reservas particulares – sendo 194 já reconhecidas – e a gestão de outras 102 reservas já existentes, num total de 57 mil hectares protegidos. As RPPNs são unidades de conservação criadas pela vontade do proprietário rural, que decide transformar sua terra em uma reserva e assume compromisso com a conservação da natureza.
Como parte das celebrações do aniversário do Programa, o blog SOS Mata Atlântica publicou, até a comemoração do seu aniversário, entrevistas com proprietários de RPPNs que foram apoiados pela iniciativa. Esse é o último post da série.
Conheça a RPPN Ecoparque de Una (BA), na entrevista realizada com Gabriel Rodrigues dos Santos, que acompanhou a implementação da reserva na época em que coordenava projetos no Instituto de Estudos Socioambientais do Sul da Bahia (Iesb), ONG que administra a RPPN.
A Reserva se destaca como modelo de ecoturismo e já recebeu mais de 40 mil visitantes. Também é conhecida por ter sido precursora na proposta de trilha suspensa em meio a copa das árvores. Um belíssimo exemplo para encerrar a série de entrevistas sobre RPPNs no nosso blog. Boa leitura!
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RPPN Ecoparque do Una
Área 83 hectares
Município Una (BA)
Entrevistado: Gabriel Rodrigues dos Santos, que acompanhou a implementação da reserva quando coordenava projetos no Instituto de Estudos Socioambientais do Sul da Bahia [IESB]
1) Para você, qual a importância das Reservas Particulares do Patrimônio Natural, as chamadas RPPNs?
Ajuda a compor todo um sistema de unidades de conservação, agregando mais áreas protegidas e realizando mais conexões com esse sistema.
2) Você acha que as pessoas, sobretudo os proprietários de terra, em geral, sabem o que é uma RPPN e que qualquer cidadão pode criar uma?
De uma forma geral eles não sabem, você vê um ou outro comentando.
Houve uma melhoria na divulgação, mas ainda pode melhorar mais.
3) Como e quando surgiu o seu interesse em criar uma RPPN?
Existem as RPPNs institucionais e as feitas por pessoas físicas. Eu acredito que nas físicas o sentimento é mais altruísta, tem o interesse em resguardar a área, proteger. As empresas que criam RPPNs visam, além de proteção das áreas, divisão de impostos, visibilidade, etc.
Também há pessoas como nós, do 3° setor, que na verdade recebemos doações para fazer a gestão de áreas que foram compradas com o objetivo de conservação. Recebemos uma doação da 3M do Brasil através da TNC. O recurso era destinado para comprarmos uma área e transformá-la em floresta, uma RPPN, para que fosse conservada. Compramos uma propriedade de quase mil hectares. E com os recursos que sobraram, adquirimos uma nova área, a Nova Angélica, com 240 hectares, mas praticamente toda de floresta.
4) Você teve dificuldades para a criação da sua RPPN? Se sim, quais?
Sim, porque nós tínhamos uma estratégia diferente de plano para ela. Nossa RPPN foi criada em 2004 como a primeira RPPN reconhecida pelo órgão estadual da Bahia. Tínhamos a intenção de incentivar o governo estadual para que botassem em curso um programa de RPPNs. Enfrentamos dificuldades porque fomos pioneiros no Estado, trabalhamos junto aos nossos técnicos, que interagiram com o governo estadual. Desta forma conseguimos criar nossa propriedade.
5) Como você conheceu o Programa de RPPNs da Mata Atlântica? Qual foi o seu interesse em participar do edital?
Nossa instituição tem 19 anos, tivemos relações muito fortes com a Aliança para Conservação da Mata Atlântica. Por isso, nunca tivemos problemas em tomar conhecimentos dos editais, pois eles sempre divulgaram isso.
6) Quantas edições você já participou? Quantas você ganhou?
Participamos de uma edição, a que fomos contemplados.
7) Qual foi o apoio do programa à sua reserva?
O recurso foi destinado pra fazer o plano de manejo. Captar recursos para RPPN é muito difícil, há poucos editais, poucas empresas na nossa região apoiando esse tipo de iniciativa. Manter uma RPPN é caro, temos um custo mínimo anual de entre 28 mil e 35 mil reais. Com o nosso plano de manejo estamos aptos a entregar uma proposta anexando as opções que devemos fazer como planejamento para RPPN. Isto se torna uma ferramenta para a reserva, e para mostrar que temos um planejamento, uma linha de trabalho, e que estamos sendo coerentes.
8) Qual sua opinião sobre as atividades realizadas?
Acho interessante. Ficamos em contato com profissionais que trabalham com RPPN na área governamental e não governamental, com pessoas especializadas. Participamos de uma rede, com a função muito interessante de ligar todas as RPPNs. O Programa de RPPNs funciona como um aglutinador de gestores e proprietários de RPPN.
9) Você pretende participar de novas edições?
Sim, pretendemos. Hoje somos proprietários de 700 hectares de floresta Atlântica. O ônus disso é muito alto. Nossos parceiros nos ajudaram durante muitos anos, mas muitas das fontes que nos abasteciam de recursos para manter essas áreas secaram.
A captação específica para RPPNs é muito difícil. Como somos do 3° setor, ficamos na dependência da captação de recursos. Além disso, pretendemos participar novamente, pois temos outras áreas. Por exemplo, uma fazenda no município de Itacaré. São 600 hectares de RPPN sem plano de manejo. Também somos vizinhos de mais duas RPPNs que não têm plano de manejo. Somos potenciais candidatos para fornecer para as nossas e outras propriedades este serviço (de plano de manejo).
Sobre Reservas Particulares
Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN) é uma categoria de unidade de conservação criada pela vontade do proprietário rural, que decide transformar sua terra em uma reserva e assume compromisso com a conservação da natureza.
As RPPNs são importantes para proteger as riquezas naturais e ambientes históricos, além de ajudar na preservação da água, na regulação do clima, na limpeza do ar, no desenvolvimento de pesquisas científicas dentre outros serviços ambientais. Atividades recreativas, turísticas, de educação e pesquisa são permitidas na reserva, desde que sejam autorizadas pelo órgão ambiental responsável pelo seu reconhecimento.
Dessa forma, muitas RPPNs geram renda e conhecimento em sua região, com atividades como ecoturismo, educação ambiental e artesanato.
O Programa de Incentivo às RPPNs da Mata Atlântica apoia através de editais os proprietários interessados em criar suas reservas particulares. O programa é uma parceria entre as ONGs CI-Brasil e Fundação SOS Mata Atlântica. O programa completa 10 anos em 2013, tendo apoiado nesse período a criação de 392 novas RPPNs – sendo 194 já reconhecidas – e a gestão de outras 102 reservas já existentes.
Saiba mais:
Programa de Incentivo às RPPNs
Como participar
Outras informações: www.reservasparticulares.org.br
Fonte: SOSMA.
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